A Bélgica é muitas vezes um país esquecido por quem viaja à Europa. Próxima à Paris, no caminho para Amsterdã e a um pulinho de trem de Londres, a capital, Bruxelas é ideal para uma parada de três dias a caminho de um desses destinos.
Bruxelas é a capital do país e sede da União Européia, Bruges é uma impressionante cidade medieval, umas das mais preservadas e belas da Europa. A Antuérpia é a sede dos diamantes e grande centro industrial e Gent, uma cidade de universitários.
Em Bruxelas, o centro histórico da cidade é belíssimo, sua praça principal, a Grand Place é inspiradora, com sua arquitetura de prédios geminados e que levam o nome de profissões antigas, como Guilda dos Barqueiros, a Guilda dos Donos de Armarinho, a Guilda dos Cervejeiros, a Guilda dos Padeiros e a Guilda dos Açougueiros.
O Hôtel De Ville, o primeiro prédio da praça e sede da prefeitura da cidade. Outro prédio incrível é a Maison du Roi, construído em 1870 e que hoje abriga um museu da história da cidade.
As Galeries Royales de Saint-Hubert, construídas em 1847, foram uma das primeiras lojas de galerias da Europa, onde fica o Café du Vaudeville, frequentado por Karl Marx, Auguste Rodin e Victor Hugo. O café possui cópias do Manifesto Comunista no andar superior. Infelizmente estava fechado quando fomos.
Lojas sofisticadas, que parecem ter saído do início do século passado, vendem produtos sob encomenda, como chapéus e luva.
A Bélgica foi o país de grandes artistas como os pintores Jan van Eyck, Peter Bruegel, o velho, Peter Paul Rubens, Rogier van der Weyden, Hans Memling, Antoon van Dyck, Jacob Jordaens, Paul Delvaux e René Magrite. Seu maior e mais conhecido escritor é George Simenon, criador do Inspetor Magret. O desenhista Hergé, nascido em Liège, é o criador do personagem Tin Tin e lojas com produtos do personagem são comuns no centro de Bruxelas e em outras cidades do país. Na arquitetura, a art nouveau também tem lugar em Bruxelas, terra do arquiteto Victor Horta, que possui um museu, o Musée Horta para os fãs desse estilo vanguardista.
Com inúmeros artistas, Bruxelas possui um pool de museus de arte, os Musées Royaux des Beaux-Arts, integrado por três outros museus, o Muséed’Art-Ancien, dedicados a arte dos séculos 15 à 18, o Musée Fin-de-Siècle, com obras do século 19 ao início do século 20, e o Musée Magrite, o grande pintor belga surrealista. Além das obras de Brueghel, Rubens, há ainda obras de pintores franceses, como Jacques Louis David (Morte de Marat).
Os preços de entrada dos museus são de 8 euros cada. Se visitar os três, o bilhete custa 13 euros. Pessoas com 65 anos ou mais pagam 6 euros em cada museu ou 9 euros nos três museus combinados. Crianças e estudantes, até 25 anos, pagam somente 2 euros cada museu ou 3 euros o ingresso para os três.
Alem desses, Bruxelas possui uma infinidade de outros museus, como o Musée des Instuments de Musique e o Centré Belge de la Bande Dessinée, dedicado à história dos quadrinhos, entre eles, Tin Tin, que segue sendo o astro.
Se você que quer conhecer a Bélgica monárquica e onde vivem seus reis, Filipe e Mathilda, a Place Royal abriga o Palácio Real de Bruxelas e a Igreja de Saint Jacques-sur-Coudenberg, uma espécie de Westminster dos belgas.
Um dos bairros mais interessantes de Bruxelas é o Sablon, cheios de cafés e chocolaterias e um ótimo local para fazer uma pausa.
Bruxelas é uma cidade contraditória. Antiga, com prédios imponentes e ao mesmo tempo antiga, mas cheia de jovens e pulsante. Estivemos na cidade a apenas dois dias depois dos atentados ao aeroporto e ao metrô da cidade. Muitos protestos e vigílias tomaram conta da cidade, a imprensa do mundo todo estava na Bourse, prédio da Bolsa de Valores, onde acontecem os principais protestos da cidade. Foi emocionante a comoção dos belgas com a fatalidade que tomou conta do país na semana. Presenciamos uma situação que poderia resultar em um embate da população, ainda chocada com o atentado do Estado Islâmico, com skinheads que ocuparam a Bourse e a polícia local separando os dois grupos, sem desferir um só golpe.
Bruges, uma cidade medieval
Mas a cidade mais incrível do país é Bruges, fica menos de uma hora de trem de Bruxelas. Uma riqueza da Idade Média, Bruges continua praticamente intocável e parece viver ainda em outro século.
A cidade medieval pode ser percorrida a pé, desde a estação ferroviária da cidade.
Fundada no século 10, Bruges foi uma cidade muito próspera devido ao comércio de sedas, peles, frutas e tapetes. Bruges prosperou no século 13, quando foi a capital do Império de Borgonha, com governantes que foram casados com outros membros da realeza européia.
O principal foi Felipe, o Bom, que casou-se com a rainha Isabel de Portugal.
A Breidelstraat é a ruazinha cheia de lojas de renda e restaurantes, extremamente movimentada, que é a ligação da Burg, o centro da cidade, ao Markt, o mercado.
A principal praça da cidade é a Burg, cheia de prédios lindos. O prédio principal é o Stadhuis, de estilo gótico e hoje sede da prefeitura local.
A Heiling Bloedbasiliek é a Basílica do Sangue Sagrado, uma capela neogótica do final do século 19. Sob a basílica esta a Capela de São Basílio, que foi construída no século 12.
Em uma das pontas da Burg, fica a Sala da Renascença ou em bom holandês, a Renaissancezaal van het Brugse Vrije, cuja principal atração é a lareira de um dos governantes da cidade.
Na Viela do Burro Cego fica a Blinde Ezelstraat, local de uma antiga estalagem que vendia cerveja barata.
Bruges era a sede da arte flamenga, com sua rica burguesia que também eram mecenas de pintores flamengos. O Groeningemuseum é uma galeria de arte medieval, com obras de grandes pintores, como o holandês Hieronymus Bosch, de O Julgamento Final. De Jan van Eyck, a maior obra em exposição é a Madona com o cônego Joris van dar Parle. Outro museu é o Sint-Janhospitaal, que encomendou antigas pinturas de Hans Menling, um famoso inspetor local.
Uma das maiores atrações da cidade é passear por suas belas ruas medievais, algumas bem calmas, outras lotadas.
Os passeios de barco pelos canais da cidade custam 40 euros. É uma maneira prazerosa de conhecer a cidade sob outro ângulo.
Se preferir, outra opção é pegar uma charrete e percorrer as ruas de Bruges, como se estivesse na Idade Média.
O país das delícias
As cidades belgas têm atrações históricas, hotéis de vários preços e ótima culinária local, que pode ser conhecida em um passeio à pé. Entre as boas compras está o delicioso chocolate belga.
A principal marca de chocolate é nada mais, nada menos que a Godiva. O preço pode ser caro para nós brasileiros mas não impeditivo se você comprar uma pequena porção. Afinal, estamos falando de um dos chocolates mais saborosos do mundo. Outras ótimas marcas são a Leonidas, Pierre Marcolini e Neuhaus. Todas ótimas, mas menos conhecidas mundialmente.
A Bélgica é o país dos biscoitos e produtos de confeitaria, como prailines, biscoitos assados como se estivessem saindo do forno da vovó. A principal marca do país é a Dandoy. Profiteroles e macarrons também são muito populares no país.
Os waffles são divinos, espalham-se carrocinhas ou lojinhas pelas cidades. Se as cidades belgas tivessem um cheiro característico, seria o do waffle. As cidades cheiram à baunilha. Algo divino.
A diferença do waffles que se come em Bruxelas e em Bruges, é que na capital vem polvilhado com açúcar. Já em Bruges é uma loucura, vem coberto com uma infinidade de delícias.
Mas o carro chefe do país é, principalmente, as batatas fritas belgas. Vale a dica. você sobrevive facilmente na Bélgica só com as comidinhas de rua e a batata é demais. Chamadas de friejtes, elas são fritas em óleo de altíssima qualidade, duas vezes. Isso mesmo. Frita-se as batatas. Deixa-as descansar. E depois são fritas novamente, até dourar. As porções são servidas com maionese. Esqueça a dieta, porque elas são demais.
As fretejes também são populares na Bélgica em um prato chamado moules frites, os mexilhões com fritas. São o prato nacional da Bélgica. Os steak frites ou filé com fritas também são populares no país, a carne é ótima e está sempre acompanhada das maravilhosas batatas fritas. Um país que ama batata frita e chocolate, só pode ser incrível.
E tudo isso sempre acompanhado das mais refinadas cervejas trapistas, feitas por uma ordem de monges cirtenses. Marcas como a Chimay, Orval, Rochefort e Westmalle se dedicam a esse tipo de cerveja. Outras abadias deram sua licença para exploração comercial, mas continuam sendo produzidas com alta qualidade, como a Leffe, Ename e Floreffe.
Também existem cervejas de feitas de trigo, com sabor de vinho, temperadas com cerejas, framboesas, cervejas fermentadas, como a Stella Artois, mais encorpadas, como a Duvel, claras, escura, fracas, fortes. São muitos tipos de cerveja e a Bélgica é o país que os apreciadores da bebida devem conhecer. Boas cervejas custam a partir de aproximadamente 4 euros.
Línguas e Moedas
Em Bruxelas a língua falada é o francês. Em Bruges, Gent e Antuérpia é o holandês. Mas o holandês é falado pela maioria dos habitantes do país. A moeda usada é o euro. Os preços praticados na Bélgica.
Visto
Para entrar no país não é necessário aos brasileiros tirarem visto. Basta o passaporte com validade mínima de três meses. O país faz parte da União Européia e do Tratado Schengen, tratado de livre trânsito entre os países que aderiram ao tratado.
Como chegar
O principal aeroporto da Bélgica é Zaventem, o mesmo dos atentados em março de 2016, em Bruxelas. O aeroporto é acessível ao centro através de táxi, ônibus e trens.
Mas ir de trem a partir de Paris, Londres ou Amseterdã é ótimo. Bruxelas possui três estações ferroviárias na cidade; a Gare du Midi (Zuidstation, em holandês), a Gare Centrale (Centraal Station) e a Gare du Nord (Noordstation). A Gare de Midi é a estação onde chegam os trens Eurostar, de Londres e TGV internacional e o Thalys (Paris e Amsterdã).
Da Midi e Centrale saem trens regionais para Bruges, Gent e Antuérpia, os trem são novos e muito confortáveis, visto que as viagem entre as cidades e a capital duram menos de uma hora.
Para dirigir na Bélgica é necessário uma carteira internacional de motorista, seguro obrigatório e documento de propriedade do veículo. Acredite se quiser, na Bélgica quase não existem pedágios e as rodovias são iluminadas.
Quem vier de Londres pode também vir de ônibus para as principais cidades belgas e atravessar o Canal da Mancha pelo ferryboat Hull-Zeembrugge. Mas nada como o trem, o melhor meio de transporte das outras cidades europeias próximas.
Transporte Urbano
Bruxelas possui ainda táxis, tram (bondes) novíssimos e linhas de metrô, que não estavam operando devido ao atentado recente. Mas a cidade é tão enxuta que vale uma caminhada. Já Bruges é para se fazer caminhando, andando nos barquinhos pelo canais e de charretes. Táxis estão a disposição na estação ferroviária,
Hospedagem
Bruxelas possui ótimo hotéis e de todos os preços. Na região do metrô Loiuse há hotéis de qualidade e infinitamente mais baratos que Paris, Londres e Amsterdã. Em Bruges também é possível encontrar pequenos hotéis por um bom custo benefício, para quem quiser passar uma noite.
Reserve pelo menos quatro dias para conhecer a Bélgica. Aconselho passar um dia em Bruges, outro em Bruxelas e o terceiro e o quarto em Gent e Antuérpia.