Deixe o carro, a poluição e o trânsito de lado, liberte-se das tensões das grandes cidades e deixe-se contagiar pela beleza do cenário. Você vai se sentir revigorado após uma temporada na Ilha de Boipeba, conhecida como Reserva da Biosfera e elevada a Patrimônio da Humanidade, pela UNESCO.
Meios de transporte, só barcos, tratores e quadriciclos, únicos veículos permitidos na ilha.
A viagem começa por Salvador, atravessando a balsa para a Ilha de Itamaracá, pegando a BR-101, rumo ao litoral do baixo sul da Bahia, em direção ao município de Valença. Recomendamos deixar o automóvel em um dos estacionamentos particulares do vilarejo de Torrinhas, pertencente ao município de Cairu, a cerca de uma hora de Valença. O acesso também pode ser feito a partir de Valença ou Morro de São Paulo.
De Torrinhas, o ponto mais próximo da ilha, é só pegar uma lancha rápida e pouco mais de meia hora depois chega-se ao Atracadouro Zé da Viúva, localizado na Velha Boipeba, o primeiro dos três povoados da ilha.
Você está pronto ou pronta a desfrutar da exuberante natureza local, das belas praias e a riqueza pujante da flora e fauna, manguezais e restingas, que são as principais fontes de alimentação da biosfera.
Do atracadouro, segue-se a pé pelo vilarejo, onde só é permitida a circulação de pedestres.
Entre o atracadouro do Zé da Viúva e o ponto da jardineira e dos triciclos são 15 minutos à pé
Guias locais, muitos dos quais estudantes que aproveitam para ganhar um bom dinheiro nas temporadas, se oferecem para levar em carrinhos de madeira as bagagens para o ponto de partida e chegada aos demais povoados que compõem a ilha – Moreré e São Sebastião. A distância entre o atracadouro e o ponto da jardineira e dos triciclos é de 5 minutos à pé. O pessoal cobra 30,00 para levar suas alas em um carrinho.
Você pode ficar em Velha Boipeba mesmo, nas muitas pousadas que estão ali, ou optar pelo trator ou quadriciclo para seguir a Moreré, onde se localiza a praia que leva o mesmo nome. O quadriciclo leva duas pessoas e cada uma paga R$ 20,00. eles possuem uma caixinha na frente para colocar sua bagagem. Leva-se 20 minutos para chegar até Moreré. Já a jardineira custa R$ 10,00, mas somente saí se estiver com todos os lugares tomados, senão a viagem custa R$ 60,00 para sair em direção à Moreré, sem lotar. Na jardineira a viagem leva 30 minutos.
O local vem se tornando o principal ponto de turismo da ilha e também oferece boas casas de aluguel e pousadas.
Tanto em Velha Boipeba quanto em Moreré é possível alugar barcos para conhecer as demais praias como a Ponta de Castelhanos ou a do povoado de São Sebastião, mais conhecido como Cova da Onça.
Para conhecer a Ponta dos Castelhanos e a Cova da Onça é preciso fazer um passeio em uma das pequenas lanchas que ficam em Moreré.
Geralmente eles cobram R$ 150,00 por pessoa, passa para R$ 200,00 se for meses de verão. Como estávamos em quatro, conseguimos por R$ 100,00 com o Luis, um dos pescadores de Moreré, que nunca saiu da ilha.
O passeio inclui circular pelos manguezais, com árvores que parecem surgir das águas.
Eles são o berço de gaiamums, peixes de várias espécies, pássaros e diversas outras espécies biológicas.
Soma-se ao cenário de Boipeba, um preservado ecossistema, praias de rara beleza, recifes, barras, canais, ilhotas, extensas áreas de restingas, brejos e e áreas remanescentes da Mata Atlântica.
Boipeba quer dizer cobra chata na língua tupy. Os indígenas deram esse nome à ilha devido à grande quantidade de tartarugas que vão desovar nas praias. Baleias jubartes também costumam fazer visitas, na época da procriação.
As dificuldades de acesso contribuem para a preservação ambiental de Boipeba, mas também é nítida a preocupação dos comerciantes, pescadores e moradores locais em manter o ambiente, com a seleção do lixo descartável e distribuição de cartazes alertando os turistas para respeitarem as regras de preservação, que todo cidadão consciente deveria fazer.
Boipeba está localizada no Arquipélago de Tinharé, vizinho ao ponto mais conhecido dos turistas que é Morro de São Paulo. Pertence à APA (Área de Preservação Ambiental) das Ilhas de Tinharé e Boipeba, constituída em 1992.
A reserva ocupa uma área de 43.300 hectares, e incluem as povoações de Morro de São Paulo, Gamboa, Galeão, Guarapuã, Velha Boipeba e São Sebastião.
A APA está localizada no município de Cairu, entre as desembocaduras dos rios dos Patos e o Canal de Taperoá.
Um paraíso ameaçado
As principais praias de Boipeba são as da Boca da Barra, Tassimirim, Cueira, Moreré, Bainema, Ponta dos Castelhanos e São Sebastião (Cova da Onça). Os recifes emergem quando a maré está baixa em Moreré e formam piscinas naturais de águas transparentes e propícias ao mergulho, nas quais é possível ver peixes, lagostas, estrelas do mar, corais e plantas subaquáticas.
Algumas iniciativas de exploração de petróleo na região e acidentes com navios petroleiros impõem sérias ameaças ambientais, na região. Em 2001, um acidente provocado por navio causou um derrame de parafina nas praias. Um outro acidente de navio, em janeiro de 2003, ocasionou vazamento de óleo bruto e a morte de vários peixes.
Em 2019, quando lá estivemos, um vazamento de óleo até hoje não explicado e de grande repercussão nacional e internacional, poluiu nossa costa do Norte/Nordeste ao Sudeste. Ajudamos e presenciamos os esforços dos moradores para limpar as praias dos resíduos de óleo derramado. O prejuízo ambiental ainda está para ser avaliado.
História e localização
Boipeba é cercada de um lado pelo Oceano Atlântico e de outro pelo Rio do Inferno, portanto, o marítimo e o pluvial são os principais acessos, sendo este último o mais utilizado devido às águas calmas do estuário.
A ilha remonta à época do descobrimento. Em 1563, os jesuítas fundaram a Aldeia e a Residência de Boipepa. Na época, o litoral era habitado por tribos indígenas de aimorés, tupinambas e tupiniquins, e os jesuítas chegaram à região para catequizá-los.
Em 1516, a Bahia seria dividida em três capitanias e coube a Jorge Figueiredo Correia ficar com a Capitania de Ilhéus. Este nomeia Francisco Romero como seu lugar-tenente. Por essa época, o navio espanhol “Madre de Dios” naufraga na Ponta dos Castelhanos, sul da ilha.
Toda a beleza de Moreré
Vindo de Lisboa, Romero escolhe Morro de São Paulo, como sede da capitania, mas depois desiste e a transfere para o local que hoje é a cidade de Ilhéus. Com o ataque dos Aimorés a Porto Seguro e Ihéus, os refugiados seguem para Cairu e a Ilha de Boipeba, que se desenvolve rapidamente.
Boipeba é elevada à condição de vila, entre 1608 e 1610, quando os jesuítas erguem a Igreja do Divino Espírito Santo, conhecido como o maior monumento histórico da ilha.
Os holandeses também estiveram na região e investiram contra a cidade de Salvador, até conseguirem tomá-la, mas são expulsos menos de um mês depois. Outras esquadras holandesas permanecem na costa do arquipélago de Tinharé.
Pieter Van Heynm que comanda uma esquadra, ataca Salvador várias vezes mas acaba por se retirar para o Caribe e antes envia uma embarcação comandada por um brasileiro conhecido por “Mãozinha” para saquear a Ilha de Tinharé.
Segundo a lenda, ele teria desistido devido a um milagre atribuído à Nossa Senhora da Luz, que teria criado a ilusão de que a costa estaria repleta de soldados.
Por sua posição estratégica e devido aos ataques holandeses, o governador Diogo Luiz de Oliveira manda construir o Forte do Morro de São Paulo, em 1631, se tornando a maior fortaleza da costa nacional até 1530.