A galeria de pintura holandesa do MET – Metropolitam Museum of Art de Nova York possui belíssimas obras dos dois mais renomados pintores holandeses Rembrandt Harmenszoon van Rijn e Johannes Vermeer. Johannes Vermeer nasceu em Delft, em 1632 e viveu toda a sua vida na sua terra natal, onde está sepultado na Igreja Velha (Oude Kerk) de Delft.
É o pintor holandês mais famoso e importante do século XVII, junto com Rembrandt, no período que é conhecido por Idade de Ouro Holandesa, devido às espantosas conquistas culturais e artísticas do país nessa época. Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhante com o uso da luz.
Alegoria da fé católica (à esquerda) e
Vermeer era discreto e pouco se sabe da sua vida, casou-se em 1653 com Catharina Bolenes e teve 15 filhos, dos quais morreram. No mesmo ano juntou-se à guilda de pintores de Saint Lucas São Lucas e mais tarde, entre 1662 e 1669, foi escolhido para presidir a guilda.
Jovem Mulher com um Jarro de Água e Uma Jovem Mulher Lendo (á direita), de Johannes Vermeer
Sabe-se que vivia com magros rendimentos como comerciante de arte, e não pela venda dos seus quadros e por diversas vezes até foi obrigado a pagar com quadros dívidas contraídas nas lojas de comida locais. Morreu muito pobre em 1675. A sua viúva teve de vender todos os quadros que ainda estavam na sua posse ao conselho municipal em troca de uma pequena pensão.Ela ficou somente com um quadro, a última obra de Vermeer, intitulada Clio.
Uma empregada adormecida (à esquerda) e Jovem mulher com alaúde (à direita), de Johannes VermeerDepois da sua morte, Vermeer foi esquecido e algumas vezes os seus quadros foram vendidos com a assinatura de outro pintor para aumentar o valor. Foi só muito recentemente que a grandeza de Vermeer foi reconhecida, em 1866, o historiador de arte Théophile Thoré fez uma declaração nesse sentido, atribuindo 76 pinturas a Vermeer, número esse que foi em breve reduzido por outros estudiosos. No princípio do século XX havia muitos rumores de que ainda existiriam quadros de Vermeer por descobrir.
Conhecem-se hoje muito poucos quadros de Vermeer e somente de 40 pinturas sobrevivera e são atribuídos ao pintor holandês. Há opiniões contraditórias quanto à autenticidade de alguns quadros.
A vida do pintor é contracenada no filme “Garota com Brinco de Pérola” (2003) do diretor Peter Webber, com a atriz Scarlett Johansson interpretando Griet, a moça dos brincos de pérola e o inglês Collin Firth como Vermeer.
Rembrandt Harmenszoon van Rijn nasceu em Leida em 1606 e foi o mais celebrado pintor da Holanda e considerado um dos maiores nomes da história da arte europeia e por muitos historiadores da arte é o maior pintor de todos os tempos. Também viveu na Era de Ouro na qual o país se desenvolveu.
Na infância frequentou aulas de latim e foi matriculado na Universidade de Leida, onde registros da época mostram que ele demonstrava grande inclinação para pintura, tornando-se sem demora aprendiz de um pintor, Jacob van Swanenburgh, com quem passou três anos.
Herman Doomer (à esquerda) e Retrato de um Homem (à direita)
Após um breve mas importante aprendizado de seis meses com o famoso pintor Pieter Lastman em Amsterdã, Rembrandt abriu um estúdio em Leida em 1624, compartilhando-o com seu amigo e colega de profissão Jan Lievens. Em 1627, Rembrandt começou a aceitar alunos, entre eles Gerrit Dou.
Retrato de uma Jovem Mulher (à esquerda) e Mulher com uma rosa (à direita)
Em 1629, Rembrandt foi descoberto pelo estadista Constantijn Huygens, pai do famoso matemático e físico Christiaan Huygens, que conseguiu para o pintor importantes encomendas na corte de Haia. Como resultado desta conexão, o príncipe Frederik Hendrik continuou a adquirir as obras de Rembrandt até 1646.
No final de 1631, Rembrandt mudou-se para Amsterdã, então em rápida expansão como o novo centro comercial dos Países Baixos, e começou a praticar como retratista profissional, obtendo grande êxito. Ele inicialmente permaneceu com um marchand, Hendrick van Uylenburg, e em 1634 casou-se com sua sobrinha, Saskia van Uylenburg. Rembrandt e Saskia casaram-se e no mesmo ano,e tiveram um filho chamado Titus. Rembrandt tornou-se cidadão de Amsterdã e membro da guilda local de pintores. Por vinte anos ele ensinou quase todos os importantes pintores holandeses.
Os maiores triunfos criativos de Rembrandt são exemplificados especialmente nos retratos de seus contemporâneos, autorretratos e ilustrações de cenas da Bíblia. Seus autorretratos formam uma biografia singular e intimista em que o artista pesquisou a si mesmo sem vaidade e com a máxima sinceridade.
Retrato de uma Mulher e Retrato de um Homem, ambos provavelmente Membro da Família Van Beresteyn
Tanto na pintura como na gravura, ele expõe um conhecimento completo da iconografia clássica, que ele moldou para se adequar às exigências da sua própria experiência; assim, a representação de uma cena bíblica era baseada no conhecimento de Rembrandt sobre o texto específico, na sua assimilação da composição clássica, e em suas observações da população judaica de Amsterdã. Devido a sua empatia pela condição humana, ele foi chamado de “um dos grandes profetas da civilização”.
Bellona (à esquerda) e Homem em um turbante (à direita)
Após a morte de sua esposa, no final da década de 1640, Rembrandt deu início a um relacionamento com sua empregada Hendrickje Stoffels. Em 1654 tiveram uma filha, Cornelia, o que provocou a intimação de Hendrickje pela Igreja Reformada Holandesa para responder a acusação de que cometera atos de uma prostituta com Rembrandt, o pintor.
Saskia como Minerva (à esquerda) e Retrato de um homem segurando luvas (à direita)
Ela confessou a verdade, sendo excomungada. Rembrandt por sua vez não foi convocado ou excomungado, pois não fazia parte de nenhuma igreja. Os dois foram considerados legalmente casados sob a lei comum, apesar do pintor não ter se casado oficialmente para não perder acesso aos recursos financeiros destinados a Titus no testamento de sua mãe.
Rembrandt vivia além de suas rendas, comprando obras de arte, impressões e raridades, o que supostamente provocou em 1656 um acordo nos tribunais para evitar sua falência, que resultou na venda da maioria de seus quadros e sua imensa coleção de antiguidades.
Auto-retrato (à esquerda) e Retrato de uma Mulher (à direita)
A lista de itens vendidos sobreviveu ao tempo, e relaciona entre outros objetos os bustos de vários Imperadores Romanos, armaduras japonesas e um acervo de história natural e mineral. Em 1660 ele foi forçado a vender sua casa e máquina impressora e mudar-se para uma habitação modesta em Rozengracht.
As autoridades e credores eram em geral compreensivos com sua situação—com exceção da guilda de pintores de Amsterdã, que introduziu uma nova regra proibindo a qualquer um nas circunstâncias de Rembrandt de trabalhar como pintor. Para contornar a proibição, Hendrickje e Titus iniciaram um empreendimento para agenciar obras de arte, com Rembrandt como seu funcionário.
Flora (à esquerda) e Hendrickje Stoffels (à direita)
Segundo estudiosos, a pintura do grande mestre divide-se claramente em duas fases distintas. Na primeira, é evidente a influência de Pieter Lastman, que estudou com Caravaggio em Roma por mais de 10 anos. Esta técnica mostra um contraste muito grande com a iluminação da tela, o que confere grande dramaticidade às pinturas, que tinham temática bíblica ou mitológica. A movimentação dos personagens retratados também era muito carregada de expressões intensas, o que colaborava mais ainda na dramaticidade da cena. As pinturas eram menores, mas riquíssimas em detalhes, como vestimentas e joalheria.
O Portador Padrão (à esquerda) e Retrato de um Homem (à direita)
A segunda fase começa por volta de 1640, onde Rembrandt utiliza com maior profusão a monocromia em tons dourados, uma influência clara de Caravaggio, um dos primeiros grandes mestres do chiaroscuro, técnica com uma justaposição muito forte entre luzes e sombras, cujo resultado final é um efeito visual impressionante, criada por Leonardo Da Vinci. Porém o clima da pintura, ao invés de movimentos repentinos e fortes, torna-se mais leve, com personagens mais introspectivos e pensativos.
Retrato de Gerard de Lairesse (à esquerda) e Retrato de Um Homem (à direita)
A luz passa a ser não só um elemento que compõe o ambiente, mas começa a fazer parte do plano espiritual da pintura, como a luz da alma humana. Os efeitos de luz criam a forma e o espaço e a cor se subordina a estes, daí a ser chamado de mestre das luzes e sombras. A profundidade de seus quadros neste período é intensa, tocando ao extremo o observador. Cada vez mais aproxima-se da técnica do grande mestre Ticiano, o que pode ser visto nas finalizações e na qualidade superficial de suas pinturas.e
Rembrandt Jovem (à esquerda) e Titus, filho de Rembrandt (à direita)
Rembrandt pintava em camadas de tintas, construindo a cena da região mais afastada até a sua frente, com o uso de vernizes entre estas camadas de tinta, que eram bem espessas, o que permitia uma ilusão de ótica graças à qualidade táctil da própria tinta. A manipulação tátil da tinta se aproximava de técnicas medievais, quando alguns efeitos de mimetismo transformavam a superfície da pintura. O resultado final varia muito no manuseio da tinta, sugerindo espaço de uma maneira altamente individual.
Lieven Willemsz van Coppenol (à esquerda) e Homem em uma capa vermelha (à direita)
Rembrandt pintou usando basicamente três temas distintos, as pinturas sacras, os autorretratos e os retratos de grupos. Rembrandt ficou muito famoso pela quantidade de autorretratos que realizou, mais de 100 no total, por 40 anos. Estes autorretratos, que eram leituras psicológicas do autor, foram comparados somente aos que Vincent Van Gogh fez de si mesmo, mais de 200 anos depois. Sempre foi fiel ao rosto que encontrava no espelho, tanto nos momentos felizes quanto nos de desespero, onde encarava as agruras da vida.
Cabeça de Estudo de um Homem Velho (à esquerda) e Homem com Barba (à direita)
Os retratos de grupos estavam em moda na Holanda na época de Rembrandt, onde grupos procuravam os pintores para terem seu retrato imortalizado em uma tela, e ainda podiam dividir os custos da produção entre si. Rembrandt era, e ainda é, muito famoso pela qualidade das suas gravuras. As gravuras consistiam de uma técnica aperfeiçoada e simplificada pelo próprio pintor, por volta de 1630.
Rembrandt usava das mais variadas temáticas nas suas gravuras como cenas bíblicas, mitologia, paisagens, nus, retratos e outras mais, idem às suas pinturas; embora os autorretratos sejam mais comuns neste tipo de arte. A fase onde realizou a maior quantidade de gravuras iniciou-se em 1636 e durou cerca de 20 anos.
Retrato de uma Mulher (à esquerda) Homem com um Gorget de Aço (à direita)
Existem vinte e sete autorretratos, 64 paisagens, a maioria pequenas, com um detalhamento impressionante. Um terço de suas gravuras eram de tema religioso, muitas tratadas de forma bastante simplista, enquanto outras são impressões monumentais. Algumas gravuras eróticas, ou apenas obscenas também são encontradas, embora não haja paralelo a este tema em suas pinturas. Possuía, até ser obrigado a vender, uma série de gravuras de outros artistas e muitos esboços e influências podem ser traçadas daí.