Chegamos em Washington vindos de Nova York em ônibus da Greyhound, que pegamos na Pensilvânia Station, próximo a Broadway e depois de quatro horas de viagem, descemos na estação rodoviária de Washington D.C.
Já na rodoviária pegamos um taxista que ficou nosso amigo, o Bakari, que ficou em Salvador durante uma temporada e amava o astral dos brasileiros. Bakari já nos cativou com suas histórias, pois participou no ano de 1963 da Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, a manifestação política liderada pelo ativista dos direitos humanos e pacifista Martin Luther King Jr, que reuniu mais de 250 mil pessoas no National Mall. O astral político já estava no contato com a primeira pessoa que conhecemos na capital.
Havíamos reservado um quarto em uma dessas lindas casas vitorianas que povoam as ruas de Washington, geralmente em tijolinhos vermelhos. Escolhemos o bairro histórico de U Street, um bairro no nordeste da capital e recheado de histórias.
O Corredor U Street, chamado também de Cardozo / Shaw ou Cardozo, é um Distrito Histórico da Grande Rua U, localizada em um trecho de nove quarteirões da U Street até as ruas 9 à 18 da NW.
Nas das décadas de 1920 à 1960, foi o centro de entretenimento negro da cidade e era chamado “Black Broadway” e “o coração da cultura negra em Washington, DC “.
Até a década de 1920, quando foi ultrapassado pelo Harlem, o U Street Corredor abrigava a maior comunidade urbana afro-americana do país .
Em seu auge cultural o U Street Corredor era conhecido como e era frequentada por artistas que tocaram nos clubes locais da época, como Cab Calloway, Louis Armstrong, Miles Davis, Sarah Vaughan, Billie Holiday e Duke Ellington.
Aliás, o pianista Duke Ellington foi o grande nome do bairro, nasceu em uma casa na 13 th, entre às ruas T e S.
O bairro ainda possui dois teatros históricos, o Lincoln Theatre, que foi inaugurado em 1921 e o Howard Theatre, inaugurado em 1926. O Lincoln era um dos maiores cinemas e salões de festas integrados, foi fechado em 1983 e reaberto em 1994, como um centro de artes cênicas.
O bairro atravessou um período de declínio, que teve origem nos distúrbios de 1968, quando durante quatro dias a população causou revoltas, após o assassinato do ativista dos direitos civis Martin Luther King Jr. e que afetaram o bairro mais afro-americano de Washington, DC.
O bairro teve sua economia acelerada com a abertura da estação de metrô U Street em 1991. Hoje, apenas 18% de afro-americanos vivem na região. A U-Street vem recebendo novos residentes que se mudam para grandes prédios de apartamentos de luxo, a chamada gentrificação, o que torna a região cada dia mais cara para os afro-americanos. A cada dia aparecem novos restaurantes e lojas de luxo, ainda que descolados e ecléticos, com música ao vivo e vida noturna. Assim os afro-americanos tem migrado para regiões mais distantes, mas o bairro ainda conserva aquele clima histórico.
Outras atrações da vida noturna da U Street são o Bohemian Caverns, de 1926 e restaurantes na 9th Street at Harrington’s, como o Chez Maurice Restaurants. Locais históricos de jazz, como o 9:30 Club, o Black Cat, DC9, o U Street Music Hall e o Velvet Lounge, que estão localizados no corredor, são muito procurados, além do coletivo de música Spelling for Bees.
U Street também abriga o desfile anual do funk, um festival com celebração desse gênero musical, artes comunitárias e criatividade. Arte de rua ou grafite e murais podem ser encontrados em quase todas os muros da U Street.
O local que é o queridinho da Washington e um dos restaurantes mais famosos da capital, é uma lanchonete na U Street, que serve como cardápio o famoso hot dog smoke, com o chile mais apimentado que comi na vida.
O Ben Chili’s Bowl é frequentado por Obama e funciona no antigo teatro Minnehaha. Durante os tumultos de 1968 que aconteceram o bairro que era o coração do movimento negro e dos direitos civis de Washington, o Ben’s Chili Bowl sobreviveu de ser destruído pelos moradores que ficaram atônitos com o assassinato do líder Martin Luther King.
O Ben’s continuou aberto para servir os que protestavam e os policiais para almoçar e jantar. Até hoje o Ben’s continua a receber os clientes e servir os moradores locais. Um clássico do bairro que sobrevive até hoje. É parada obrigatória.
Ficamos na rua paralela a U Street, a T, em uma casa vitorianan muito bacana e quem nos recebeu foi a Mary. Essas casas vitorianas são maravilhosas e fiz a locação em um site de Bed and Breaksfast, mas é fácil achar lugares similares.
As casa são geralmente de três ou quatro andares, com porão, térreo, primeiro andar e um sótão. O pessoal aluga os quartas da casa.
Você recebe a chave e se vira, se quiser cozinhar é só fazer uso do local.
São casas lindas e espaçosas, com móveis antigos mas muitíssimo bem conservados.
Adoramos a localização e o astral do bairro. Recomendamos.
Uma dica de hotel para quem não se importa em pagar um pouco mais é o The Ellington, na U Street, esquina do Lincoln Theatre.