Uma breve história da Califórnia

O Golden State ou Estado Dourado como é conhecida a Califórnia foi povoado nos anos de 1500 por cerca de 300 mil nativos-americanos que falavam aproximadamente 100 línguas diferentes. Os indígenas sobreviviam graças  a um sistema de irrigação que possibilitava o cultivo no deserto. As tribos conviviam pacificamente umas com as outras, respeitando a delimitação das suas áreas com acordos verbais.

Mission Dolores em San Francisco

Em 1542 começaram a chegar as primeiras missões espanholas à Alta  Califórnia. A paz começou a ser quebrada quando o pirata inglês Sir Francis Drake chegou ao norte de San Francisco e os xamãs das tribos consideraram a chegada dos ingleses como um prenúncio do apocalipse. No século XVIII, caçadores ingleses e russos começaram a negociar as peles de lontras ao norte da Califórnia, mas a Coroa Espanhola já estava de olho no grande pedaço de terra para ampliar seus tesouros e começar a instalar missões por todo a Alta Califórnia.

Os belos jardins da primeiro pueblo de San Francisco

O padre franciscano Junípero Serra e o capitão Gaspar de Portolá fundaram a primeira missão na nova terra, San Diego de Alcalá, em 1769. Nos anos seguintes foram criadas pelos espanhóis, as missões de Monterey (1775), San Francisco (1776) e Santa Bárbara ((1782). Com a entrada de ingleses, russos e espanhóis, os povos indígenas já eram apenas 20 mil, em 1769, a maioria foi dizimada por doenças vindas com europeus e pela fome. A varíola iria dizimar os povos indígenas, conforme os espanhóis fundavam as 21 missões espanholas instaladas na Alta Califórnia.

O primeiro prédio de San Francisco, o Mission Dolores

Entre 1810 e 1821, o México entrou em guerra por sua independência da Espanha e a Alta Califórnia passou para os mexicanos. Muitos espanhóis e mexicanos casaram-se com índias nativo-americanas dando origem aos “californios”, que haviam nascido nas missões e passaram a ser os donos das terras secularizadas nelas, com a concordância do governo mexicano. Em 1846, as famílias de “rancheros”, como eram conhecidos esses descendentes de casamentos com indígenas, que eram os donos da terra, passaram a ser os verdadeiros donos da riqueza da Califórnia. Assim nasceram as “haciendas” californianas, que estavam na mão de 46 famílias.

El Pueblo de La Reina de Los Angeles é a parte mais antiga de Los Angeles

Americanos que chegavam a Los Angeles pela linha ferroviária da Santa Fé Trail começaram a pressionar o governo americano para comprar a Califórnia, que fez uma proposta ao governo mexicano, recusada por este. Em 1845, os EUA anexaram o território mexicano do Texas,  o que fez os países romperem relações diplomáticas. No ano seguinte ambos entraram em uma guerra que durou dois anos e resultou na anexação da Califórnia, Nevada, Utah e Novo México.

O belo prédio da Union Station, de 1939

Pouco tempo depois de assinado o tratado com anexação da Califórnia, começou a Corrida do Ouro próximo a San Francisco, atraindo gente do mundo todo. A região começou a receber australianos, peruanos, chilenos, chineses, irlandeses, franceses e havaianos para explorar o minério.

A Chinatown de San Francisco, a mais antiga dos Estados Unidos

Novos ricos do norte da Califórnia instalavam-se em Nob Hill, no centro de San Francisco, construindo para suas famílias belíssimas mansões vitorianas. Na agricultura, plantações de laranjas foram se disseminando na região de Riverside. San Francisco começou a viver seus Anos Dourados. Um sistema de transporte por bondes foi criado no centro de San Francisco.

Chinatown e o Financial District de San Francisco

Em 1850, os estrangeiros que eram 15 mil passaram a ser 93 mil. A riqueza do ouro em abundância atraiu tanta gente, que apenas alguns anos depois a extração mineral deixou o norte da Califórnia em situação precária, com o solo dizimado, vegetação devastada e contaminando seus rios com mercúrio.

A monumental Golden Gate

Com a escassez do ouro, os chineses começaram a trabalhar na construção de vias férreas, principalmente na Ferrovia Transcontinental, e foram acusados de roubar os empregos de americanos. Com o término da ferrovia em 12 de maio de 1869, foi colocado o último prego na ferrovia que ligava a costa oeste a costa leste. Os chineses ficaram na região de San Francisco e começaram a abrir negócios no centro de San Francisco, como lavanderias e restaurantes. Isso gerou uma onda de ódio contra os chineses, pois os americanos os acusaram de estar roubando seus empregos e começaram a perseguir e queimar suas lojas, em 1877.

O cable car de San Francisco, sinal do desenvolvimento da cidade

Em 1906, um terremoto de grandes proporções destruiu San Francisco e um incêndio terminou por devastar a cidade, já que os hidrantes estavam sem água, que haviam sido desviadas pelos políticos corruptos da cidade. O terremoto, de 8,3 na Escala Richter, matou 3 mil moradores e feriu outros 15 mil, e provocou a demolição completa de muitos edifícios.

Com o recurso mineral exaurido, a Califórnia descobriu petróleo no início do século XX e o centro de Los Angeles começou a se desenvolver ao redor de um poço de petróleo. No final do século XIX, uma esposa de fazendeiro nomeou sua fazenda de Hollywood, e na década de 1920 começaram a surgir as primeira produções cinematográficas na cidade. A Grande Depressão de 1929 fez com que cerca de 200 mil famílias de agricultores do centro-oeste americano fossem para a Califórnia, fugindo da fome. Com o fim da Primeira Guerra, a Depressão e a Lei Seca, os filmes começaram a ficar famosos na Costa Oeste e banqueiros de Wall Street começaram a investir no cinema, em Los Angeles. Surgiram as primeiras estrelas do cinema, como Clara Bow, Mary Pickford, Mae West, Charlie Chaplin e Erol Flyn.

O letreiro de Hollywwod

Nos anos 30, foram instalados na Califórnia estaleiros, uma industria aeronáutica e a agricultura florescia. Eram construídas novas rodovias, usinas hidrelétricas. Los Angeles recebeu os Jogos Olímpicos de 1932 e em 28 de maio de 1937 foi inaugurada, em San Francisco, a monumental Golden Gate Bridge.

 

Durante os anos da II Guerra, a Califórnia era considerada o principal estado agrícola do país. No pós-guerra já possuía 13 milhões de habitantes atraídos pelo sonho californiano. Em 25 de junho de 1945, a ONU foi criada em reunião na cidade de San Francisco.

Califórnia, o principal celeiro do país

Com o desenvolvimento econômico da Califórnia e sua diversidade étnica, a cultura mexicana se espalha por todo o Estado, nas principais cidades. Os chineses preferem em viver na Chinatown de San Francisco e de Los Angeles, os afro-americanos estão presentes nas grandes cidade, principalmente em Los Angeles, os italianos se instalaram no bairro de North Beach, em San Francisco, e depois iniciaram a produção de vinhos no norte da Califórnia, e os irlandeses se espalharam pelo estado.

Mural em Haight Ashbury, o bairro hisppie de San Francisco

San Francisco foi se tornando o centro da liberdade de expressão das pessoas de espirito livre. A fama da cidade começou devido a proximidade com o continente asiático e com a dispensa, por insubordinação e homossexualidade, de marinheiros gays, que rumavam para a cidade para frequentar os bares de North Beach e cafés boêmios.

Castro District, o bairro precursor dos direitos LGBT

Lugares como a City Lights Bookstore, que era uma combinação de livraria independente e editora especializada em literatura mundial, fundada em 1953 pelo poeta Lawrence Ferlinghetti, começaram a se formar . Seu fundador foi espancado e julgado por publicar obscenidades, após o lançamento do livro de poemas de Allen Ginsberg “O Uivo” (1956)

As mais belas casas vitorianas Painted Ladies

Surge o movimento beat liderado por escritores e poetas norte-americanos, no final do anos 50. Estes artistas levavam vida nômade ou fundavam comunidades. Surgem nomes como Allen Ginsnberg e outros escritores influentes da geração beat, como William S. Burroughs, autor da obra Almoço Nu (1959) e  Jack Kerouac, de On the Road (1957). Os membros da geração beat desenvolveram a reputação de boêmios hedonistas, que celebravam a não-conformidade e a criatividade espontânea.

Paz, amor, sexo livro e trips em Haight Ashbury

A geração beat foi a voz contra o macartismo, a disseminada política de intolerância que promoveu a chamada “caça às bruxas”,  em um período de intensa patrulha anticomunista, perseguição política e desrespeito aos direitos civis nos Estados Unidos, que foi do fim da década de 1940 até a década de 1950. Muitos atores e roteiristas de Hollywwod foram perseguidos. O mais notório foi Dalton Trumbo, roteirista de Johnny foi a Guerra, Spartacus, A Princesa e o Plebeu, entre outros sucessos.

O píer de Santa Mônica

Os escritores beat davam ênfase às experiências de palavras combinadas com a busca de um entendimento espiritual mais profundo. Como o poeta francês Rimbaud, acreditaram que poderiam alcançar um “grau maior de elevação da consciência” através do desregramento dos sentidos e por isso não dispensavam o uso das drogas, em seus primórdios. A geração beat deu origem as gerações hippie e punk.

Praia, surf, cinema e glamour de Santa Mônica

Com a cultura da droga emergindo na classe média, confrontos entre estudantes universitários e ativistas contra agentes da lei se tornou uma das marcas da época. Em faculdades e universidades, estudantes e ativistas lutaram pelo direito de exercer os seus direitos constitucionais fundamentais, especialmente a liberdade de expressão e reunião. Logo os jovens estavam engajados nas diversas lutas contra o status quo. A Guerra do Vietnã, e a divisão nacional prolongada entre apoiadores e opositores da guerra, foram sem dúvida os fatores mais importantes que contribuíram para o surgimento do movimento da contracultura. Os Movimentos dos Direitos Civis nos EUA, um elemento chave do movimento da contracultura, lutavam pela não-violência e igualdade de direitos, garantida pela constituição do país. O movimento pela liberdade de expressão de 1964 na Universidade da Califórnia, em Berkeley, teve suas raízes no movimento dos direitos civis no sul dos EUA.

O símbolo da geração hippie em Fisherman’s Wharf. San Francisco

A CIA usou o escritor Ken Kesey, um líder da contra-cultura que se considerava uma ligação entre a geração beat dos anos 50 e os hippies dos anos 60. Em 1957, Kensey se alistou para receber US$ 75 que a CIA pagava a estudantes de Stanford para participar de experiências com LSD, substância ainda pouco conhecida e que a agência queria usar em soldados para transformá-los em máquinas de matar no Vietnã. Assim iniciou a era piscodélica. Kensey ficou famoso ao escrever o livro One Flew Over the Cuckoo’s Nest, que originou o filme Um Estranho no Ninho.

Músicos de rua no píer 39, San Francisco

Essa eferverscência originou o movimento hippie, com um novo estilo de roupa, filosofia, arte, música e vários pontos de vista anti-guerra e anti-establishment. Alguns hippies decidiram afastar-se da sociedade moderna e reassentar-se em fazendas ou comunas. Amor livre, rejeição a produtos industrializados, consumo de produtos artesanais e orgânicos, uso de drogas, busca espirituais, a não-violência, o anti-militarismo e festivais de música inundaram a Califórnia. Em 14 de janeiro de 1967 aconteceu o evento Human Be-in no Golden Gate Park. em San Francisco. Timothy Leary, um professor de Harvard, tentou convencer 2o mil hippies a viver um novo sonho americano.

O Verão do Amor, no bairro de Haight Ashbury e o som dos artistas que andavam pelo bairro

No mesmo ano, aconteceu o “Summer of Love, com manifestações que ocorreram em todo o mundo, mas o epicentro  da revolução hippie aconteceu no distrito de Haight-Ashbury, em San Francisco, onde milhares de jovens estabeleceram residência temporária – expressando-se através da música, drogas e amor livre. Começava a Era de Aquário.  Grupos de rock psicodélico ficaram famosos no bairro hippie de Haight-Ashburyem , como Janis Joplin, Jefferson Aiplane e Grateful Dead. E junho do mesmo ano acontecia o Monterey International Pop Festival, que atraiu atenção da mídia para jovens que criticavam a guerra do Vietnã e se declaravam em rebeldia quanto ao materialismo, a autoridade e o conformismo. A música folk de Joan Baez e Bob Dylan também ligaram-se ao cenário psicodélico de San Francisco.

A Haight Street no bairro hippie

Em Los Angeles, a década de 60 trazia de Beach Boys ao The Doors de Jim Morrinson se apresentando no famoso Whisky A-Go-Go, na Sunset Boulevard. A batida latina tinha vez no rock com o guitarrista Carlos Santana.

O Whisky a Go Go, onde o Jim Morrinson e Doors se apresentavam, em Los Angeles

Com o enfraquecimento do movimento hippie, surgiram na década de 70 os movimentos Black Power e Pride Gay. Em 1977, Harvey Milk foi eleito o primeiro gay assumido para um cargo público, o de supervisor (vereador) da cidade de San Francisco, onde apresentou um projeto de lei dos direitos dessa minoria.

O Castro Theater onde Harvey Milk realizava reuniões com a militância LGBT nos anos 70, em San Francisco

Nos anos 90, o Vale do Silício começou a abrir a indústria de tecnologia que revolucionou o mundo. Empresas como Apple, Google, Oracle, Facebook, Microsoft e muitas outras se instalaram e deram início à revolução tecnológica mundial, atraindo uma  infinidade de jovens cérebros.

Beverly Hills, reduto dos endinheirados do cinema em LA

Hoje, a Califórnia possui mais de 37 milhões de pessoas, sendo o estado americano mais populoso. Estima-se que aproximadamente 200 mil pessoas vivam nas ruas das maiores cidades californianas, como Los Angeles e San Francisco. Devido ao custo de vida, principalmente na região de São Francisco e Vale do Silício, muitas pessoas não conseguem pagar os altos preços dos aluguéis, provocando uma verdadeira horda de homeless na fila de abrigos.